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A intervenção do Conselho Federal de Medicina (CFM) no Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), publicada no Diário Oficial nesta sexta-feira (14), vai além das questões administrativas, é o que denúncia o secretário afastado do Cremerj, o médico endocrinologista, Dr. Sylvio Sergio Neves Provenzano. Em entrevista ao jornal O Globo, Provenzano falou sobre a situação com um tom de surpresa e indignação. Segundo ele, a intervenção está sendo usada para atender a interesses políticos que não condizem com a natureza do órgão.
— O que acontece é que tem interesses políticos que o órgão não abraçou. O Cremerj não é um órgão político partidário. A gente não é a favor de partido A ou B. A gente é a favor da medicina de qualidade. Foi publicada a intervenção em Diário Oficial, mas eu não sei porque não recebi o relatório. Vou aguardar os desdobramentos. Isso foi o primeiro ato deles e, certamente, vão vir outros. Agora vou me dedicar aos meus pacientes. Sempre representei o meu cargo com muita honradez — afirmou o Provenzano.
De acordo com fontes ligadas à antiga gestão, o conselheiro federal Raphael Câmara, ex-secretário de Atenção Primária à Saúde durante o governo Bolsonaro, teria tentado influenciar as decisões do Cremerj. Ele teria pressionado a diretoria para adotar uma postura mais de direita, o que gerou resistência entre os demais membros.
A situação se intensificou quando Raphael Câmara tentou garantir cargos na diretoria do Cremerj, sem sucesso. Diante da negativa, ele lançou uma chapa independente na eleição para o conselho em agosto do ano passado e conseguiu se eleger, juntamente com seu suplente, João Hélio, com 33,04% dos votos válidos. A partir desse momento, uma série de denúncias envolvendo membros da diretoria atual começou a ser encaminhada a Brasília, aumentando a pressão sobre a gestão do Cremerj.
Nos corredores do órgão, um embate político se desenrola, com diferentes visões sobre o papel da entidade. Enquanto a diretoria afastada defende que órgão deve permanecer neutro, sem alinhamento ideológico à direita ou à esquerda, pressões internas teriam sido feitas para direcionar o órgão a uma postura política específica.
Além disso, membros do conselho debatem que uma disputa de forças entre as duas autarquias está em curso. A autarquia do Rio, desde que iniciou a auditoria, alega que suas contas estão em dia, com cerca de R$ 20 milhões em caixa, e nega a alegada incapacidade financeira mencionada pelo CFM. No entanto, a auditoria, que analisou documentos como relatórios contábeis, balanços financeiros, receitas e despesas desde o início da gestão em outubro de 2023, identificou diversas irregularidades.
Sobre a denúncia de irregularidades, Provenzano afirmou que, se houve, não foram de sua responsabilidade, e reforçou que sua trajetória na medicina é transparente:
— Pelas medidas adequadas vou saber porque eu fui incluído num grupo que foi afastado. Estou com a consciência tranquila. Tenho orgulho muito grande da gestão que fiz. Se houve irregularidade, não fui eu o responsável. Tenho 43 anos de medicina e chefiei a clínica médica do Hospital dos Servidores. Minha vida é um livro aberto. Fomos surpreendidos. Não tomamos conhecimento do relatório. Tomaram uma decisão e sequer disseram o que levou a decisão.