Júri popular condena 2 réus a 19 e 23 anos de prisão pela morte de congolês Moïse

Fábio Pirineus da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca foram condenados por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e sem chance de defesa da vítima.

Por Adriana França em 15/03/2025 às 07:12:21
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Foto: Reprodução

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O 1º Tribunal do Júri condenou, nesta sexta-feira (14/03), Fábio Pirineus da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca pela morte de Moïse Kabagambe. Os dois foram sentenciados por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e sem chance de defesa da vítima.

Aleson recebeu uma pena de 23 anos, 7 meses e 10 dias de reclusão, já Fábio foi sentenciado a 19 anos, seis meses e dois dias. Ambos devem cumprir a pena em regime fechado.

O congolês foi agredido até a morte, em 2022, no quiosque em que trabalhava na Barra da Tijuca. Ele levou cerca de 40 pauladas, segundo as investigações, porque cobrava o pagamento de diárias atrasadas.

A mãe e os irmãos de Moïse acompanharam o julgamento. Eles são refugiados políticos do Congo e estão no Brasil há quase 11 anos. Em um determinado momento, a família ficou abalada com a exibição de imagens da agressão.

Um vídeo com imagens das agressões, exibido durante a sessão, deixou a família abalada.

Ao ler a sentença, após dois dias de julgamento, o juiz Thiago Portes, destacou o fato de Moïse ter sido morto no país onde ele e sua família buscaram apoio e abrigo após fugir da guerra em seu país, a República Democrática do Congo.

"A morte da vítima gerou comprovados abalos de ordem psicológica e psíquica nos familiares da vítima, notadamente a genitora e o irmão, oriundos da República Democrática do Congo, que se evadiram da guerra, dos conflitos armados existentes em seu país, com a legítima expectativa de encontrar uma vida minimamente digna no Brasil. Fugiram da guerra, mas encontraram em um país que se diz acolhedor a crueldade humana e mundana, que ceifou a vida de seu filho e irmão", afirmou.

Reações às sentenças
A família de Moïse se mostrou feliz com as sentenças.
"Meu coração está tremendo, mas tremendo de feliz. Estou muito feliz com o dia de hoje, a justiça de hoje", afirmou Yvone, a mãe de Moïse, após a leitura das penas.

"Tivemos uma resposta que esperamos há dois anos, que Moïse não era uma bêbado, que Moïse não era um drogado", afirmou Maurice, irmão da vítima. "Esse já é um resultado que mostra tudo. O que fizeram com um trabalhador da África, do Congo, para buscar uma vida melhor para o Brasil e foi morto como uma cobra. Um ser humano. Isso não pode acontecer, esse tipo de pessoa não pode viver em sociedade".

O promotor do caso, Bruno Bezerra, se mostrou satisfeito com a decisão. "O resultado é o tipo de sociedade que nós queremos para o nosso estado, para o Brasil, onde questões como essa não precisam se resolver com brutalidade. A vida de Moïse foi perdida de forma banal, sem qualquer necessidade".

A defesa dos réus não quis dar declarações à imprensa, apenas confirmou que irá recorrer a decisão.

Brendon Alexander, também acusado num processo pela morte de Moïse, não foi julgado ainda.
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