Disque Denúncia do RJ passa a receber mais queixas de violência contra a mulher

Em 2 meses desde a volta do serviço 24 horas, foram 300 denúncias

Por Conexão no Ar em 25/08/2024 às 12:16:07
Foto: Reprodução

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Em quase 30 anos de funcionamento, o Disque Denúncia do Rio de Janeiro (2253-1177) identificou que queixas de agressões contra mulheres chegavam com mais frequência nos fins de semana, a partir da noite de sexta-feira.

Por falta de verba, porém, em 2016 o serviço precisou reduzir o atendimento e deixou de operar ininterruptamente. Por 8 anos, o expediente ia de segunda a sábado, em média das 7h às 15h, e não havia turno à noite.

Há 2 meses, um convênio com a Prefeitura do Rio tornou possível restabelecer o atendimento 24 horas por dia e 7 dias por semana. Desde então, já foram 300 denúncias de violência contra a mulher — um número que, no entendimento dos diretores, seria muito menor se o horário antigo ainda estivesse em vigor.

"Vimos que 40% das denúncias contra as mulheres acontecem aos finais de semana e nas madrugadas. E era justamente nesse horário que não atendíamos, desde 2016. O retorno do Disque Denúncia 24 horas veio para mitigar essa falha", diz Renato Almeida, diretor-geral da plataforma.

Bairros da Zona Oeste lideram ranking de ligações

Três bairros da Zona Oeste (Campo Grande, Santa Cruz e Bangu) encabeçam a listagem de regiões com mais registros de agressões contra as mulheres, desde quando o Disque Denúncia voltou a funcionar 24 horas por dia.

O maior volume de queixas chegou nas madrugadas de sábado para domingo e entre 13h e 20h dos domingos.

Apesar de não ser um serviço governamental, a central de atendimento chegou a operar em uma estreita parceria com a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. Mas o governo do estado deixou de fazer repasses em setembro de 2015, e o programa precisou ser reduzido.

Nos últimos anos, a instituição foi mantida por doações de empresários e de parceria com 4 prefeituras: Angra dos Reis, Maricá, Niterói e Paraty. Agora, a entidade passou a atuar com a Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia de Apoio a Segurança Pública (Civitas) e dobrou o número de funcionários, de 41 para 82.

"A importância do DD 24 horas se mede em números. Nos últimos anos, estávamos recebendo 6 mil denúncias por mês. Só nos últimos 2 meses já ultrapassamos 9 mil denúncias/mês. Isso mostra que aumentou em 50%. Para se ter ideia, na falta do serviço nas madrugadas, aos finais de semana e feriados, quando ele ficou inoperante, deixamos de receber 200 mil denúncias", diz Almeida.

"A volta dos DD 24 horas nos dá a oportunidade de denunciar junto aos órgãos de segurança — já que somos um canal que garante 100% do anonimato — os crimes que acontecem aos finais de semana, principalmente contra mulheres. Além disso, temos um canal que monitora o resultado das nossas denúncias junto aos órgãos competentes. Essa volta dá esperança para a população. E, principalmente, dá um retorno para aquela pessoa que denunciou anonimamente."

De acordo com a instituição, em quase 30 anos, ela já recebeu mais de 3 milhões de denúncias. Mais de 100 toneladas de drogas foram apreendidas com base nas ligações recebidas pelo órgão; 26 mil criminosos foram presos; e mais de 42 mil armas, apreendidas.

Crime contra mulher no RJ

De acordo com o Instituto de Segurança Público (ISP), só nos primeiros 7 meses de 2024, 67 mulheres já foram mortas por companheiros ou ex-companheiros.

No ano passado, de acordo com o ISP, 99 mulheres foram vítimas de feminicídio em todo o estado. Outras 309 sofreram tentativa.

O painel mostra ainda que 4.470 sofreram difamação por parte dos seus companheiros ou ex-parceiros; 2.671 tiveram as residências violadas por eles.

Segundo o Observatório Judicial da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, só nos primeiros 7 meses de 2024, a Justiça do RJ expediu 25 mil medidas protetivas de urgência em todo o estado.

Além disso, o TJ registrou 43 mil novos casos de violência doméstica nos 92 municípios do RJ. Além disso, quase 10 mil mulheres foram atendidas em dois núcleos do Tribunal de Justiça.

O mapeamento mostra que, de janeiro até julho, 38 mil agressores já foram condenados. O Observatório destaca que 675 mil casos de violência contra a mulher ainda estão pendentes na instituição para serem julgados.

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