A Prefeitura do Rio decreta epidemia de Dengue na cidade. Pela primeira vez na história, três variantes do vírus circulam no Rio: os tipos 1, 2 e 4. A maior quantidade de sorotipos aumenta as chances de infecção. Além dos três sorotipos, o calor e as enchentes recentes em alguns pontos da cidade em decorrência da chuva influenciam o panorama atual da doença na cidade. Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, é um dos locais mais afetados. O bairro teve um aumento de 2.300% no número de pacientes com a doença atendidos entre 1º e 20 de janeiro, em relação a igual período do ano passado.
O prefeito Eduardo Paes e o secretário de Saúde, Daniel Soranz, apresentaram o plano de contingência para o enfrentamento da epidemia de dengue, durante entrevista nesta sexta-feira (02/02), no Centro de Operações Rio (COR). O planejamento prevê uma série de medidas para a assistência da população e o combate ao Aedes aegypti, o mosquito transmissor da virose e também da zika e da chikungunya. Entre as estratégias estão a criação do Centro de Operações de Emergência (COE-Dengue); a abertura de dez polos de atendimento para a doença distribuídos por toda o município; a dedicação de leitos para pacientes com dengue nos hospitais da rede municipal; o uso de carros fumacê nas regiões com maiores incidências de caso e a entrada compulsória em imóveis fechados e abandonados.
"Diante dos números crescentes de casos de dengue na cidade caracterizando uma epidemia da doença, queria lembrar algumas coisas para a população. Vidas se perdem em razão da dengue. Mas, ao contrário da pandemia de covid-19, em que o cidadão individualmente não podia fazer muita coisa a não ser cobrar dos governantes que conseguissem a vacina, no caso da dengue depende muito da ação de cada cidadão. A absoluta maioria dos casos a pessoa pega em casa ou perto do local onde mora por absoluto descuido com a história de água parada. Estamos apresentando as medidas que vamos tomar, mas eu faço um apelo enfático à população de que não adianta só apontar o dedo para os governos ou culpar o mosquito. Nós, enquanto cidadãos, acabamos criando o ambiente propício para a proliferação da dengue", afirmou Eduardo Paes.
Centro de Operações de Emergência
Criado nos mesmos moldes do Centro de Operações de Emergência para a covid-19, o COE-Dengue funcionará nas dependências do COR. Suas atribuições serão planejar, organizar, coordenar e monitorar as ações de enfrentamento à dengue; elaborar protocolos e análises relacionadas à situação epidemiológica da doença na cidade; divulgar informações relativas à emergência de saúde pública, como boletins epidemiológicos; deliberar sobre os estágios de aplicação das medidas protetivas para cada região do município.
O COE-Dengue vai estabelecer as prioridades de informações, facilitar a comunicação e atuar como elo de ligação com outras instituições e esferas de governo. A coordenação será da Superintendência de Vigilância em Saúde da Subsecretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde (SUBPAV) da SMS. O COE-Dengue contará com mais de 20 técnicos de órgãos integrantes da estrutura da SMS: gabinete; SUBPAV; Subsecretaria Geral; Subsecretaria de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência; Subsecretaria de Gestão; Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio); Assessoria de Comunicação Social.
Primeiro polo de atendimento de dengue será aberto na Zona Oeste
Na próxima segunda-feira (5/2), o primeiro polo de atendimento para pacientes com dengue será inaugurado no CMS Raphael de Paula Souza, em Curicica, na Zona Oeste. Ao todo estão previstos dez polos, em todas as regiões da cidade, que serão abertos gradativamente, conforme o crescimento do número de casos. Eles funcionarão nas dependências de unidades de Atenção Primária e contarão com equipes dedicadas formadas por médico, enfermeiro e técnicos de enfermagem, que farão o diagnóstico e assistência, classificação segundo o critério de risco e tratamento dos pacientes com dengue. Além disso, os 150 centros de hidratação montados no final do ano passado nas unidades de saúde para o atendimento de pacientes devido aos efeitos do calor também serão usados na assistência às pessoas com dengue.
Para os quadros mais graves, com indicação de internação, os pacientes serão regulados pela Central Municipal de Regulação como vaga zero (emergência) e transferidos para leitos dedicados à dengue nos hospitais da rede de urgência e emergência do município. O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (HMRG), em Acari, poderá funcionar como unidade de concentração para a doença, inicialmente com 20 leitos. O HMRG, que durante a pandemia da covid-19 foi referência para o tratamento dos pacientes com quadros mais graves, tem expertise e preparo para passar rapidamente pelas alterações de fluxo necessárias em uma nova situação de epidemia. Ao todo, a unidade conta com 400 leitos.
Carros fumacê e entradas compulsórias
Devido ao crescente aumento do número de casos de dengue, a SMS passará a utilizar 16 carros para aplicação espacial do inseticida UBV, o chamado fumacê. Esse instrumento é utilizado em condições específicas definidas nas Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle da Dengue, do Ministério da Saúde, para bloqueio de transmissão e controle de surtos ou epidemias. O uso indiscriminado desse método de aspersão do inseticida pode causar danos à saúde e ao meio ambiente, além de eliminar também os predadores naturais do mosquito. O cenário epidemiológico atual, no entanto, justifica o uso dos carros fumacê nas regiões com maiores incidências de dengue, como a Zona Oeste da cidade.
Também como medida de controle do vetor serão realizadas entradas compulsórias em imóveis fechados e abandonados para realização de vistorias e tomada de medidas preventivas e de eliminação dos possíveis criadouros do mosquito. A entrada compulsória é um instrumento legal para respaldar o acesso dos agentes de saúde aos imóveis particulares cujos proprietários não são localizados para liberar espontaneamente a entrada dos servidores. Trata-se de uma medida regulada por decreto em que são estabelecidos os critérios para sua adoção, como notificações prévias e por escrito ao proprietário e prazo para que ele entre em contato com o serviço público para franquear o acesso e realização da ação preventiva no imóvel.